Mudança de Parâmetros da Câmara

Assumindo para simplificar um ambiente 2D com p1x = 0 (onde p1 será o centro de projecção da câmara) e que o interface está no plano y = 0 (ver figura 4.1.3), segue-se um raio de luz que parte de p1, segundo uma direcção v1. Este atingirá o interface num ponto p2:

Figura 4.1.3: Representação do caminho percorrido pela luz quando se usa a aproximação de Snell de primeira ordem.
\begin{figure}\center
%
\input{alteracao_centro_focal.pstex_t}
\end{figure}

p2 = p1 - $\displaystyle {\frac{{p_1^y}}{{v_1^y}}}$v1

De acordo com a aproximação da lei de Snell de primeira ordem, aí o raio será refractado e continuará o seu percurso segundo uma direcção v2 = Kv1. Se se propagar este novo raio para trás, e se encontrar o ponto de intersecção com a recta x = 0, tem-se o ponto p3:

p3 = p2 - $\displaystyle {\frac{{p_2^x}}{{v_2^x}}}$v2    
  = p1 - $\displaystyle {\frac{{p_1^y}}{{v_1^y}}}$v1 - $\displaystyle {\frac{{p_1^x-\frac{p_1^y}{v_1^y}v_1^x}}{{kv_1^x}}}$Kv1    
  = $\displaystyle \left[\vphantom{\begin{array}{ccccccc}0\\ \frac{p_1^y}{k}\end{array}}\right.$$\displaystyle \begin{array}{ccccccc}0\\ \frac{p_1^y}{k}\end{array}$$\displaystyle \left.\vphantom{\begin{array}{ccccccc}0\\ \frac{p_1^y}{k}\end{array}}\right]$    

Como se observa, p3 é independente da direcção tomada inicialmente, descrita por v1. Generalizando para 3D, para qualquer p1, tem-se

p3 = $\displaystyle \begin{bmatrix}1 & 0 & 0 \\  0 & 1 & 0\\  0 & 0 & \frac{1}{k} \end{bmatrix}$p1 (4.1.6)

Repare-se então que se se alterar o centro de projecção da câmara (originalmente em p1) para p3, leva-se em conta o efeito da interface (no sentido da aproximação de Taylor de primeira ordem) e pode-se aplicar directamente a reconstrução tridimensional usual (desde que se considere válida esta aproximação à lei de Snell descrita na secção 4.1.2).

Como se sabe, o centro de projecção de uma câmara está na origem do referencial local à câmara, ou seja:

L$\displaystyle \bar{p}_{1}^{}$ = $\displaystyle \left[\vphantom{\begin{array}{ccccccc}0\\  0\\  0\\  1\end{array}}\right.$$\displaystyle \begin{array}{ccccccc}0\\  0\\  0\\  1\end{array}$$\displaystyle \left.\vphantom{\begin{array}{ccccccc}0\\  0\\  0\\  1\end{array}}\right]$

Sendo $ \mathcal {E}$ a transformação projectiva que leva pontos do referencial do mundo (W) para o referencial local da câmara (L), tem-se

W$\displaystyle \bar{p}_{1}^{}$ = $\displaystyle \mathcal {E}$-1  L$\displaystyle \bar{p}_{1}^{}$

Como visto na equação 4.1.6 pode-se agora aplicar a aproximação de primeira ordem da lei de snell, resultando em

W$\displaystyle \bar{p}_{3}^{}$ = $\displaystyle \mathcal {K}$  $\displaystyle \mathcal {E}$-1  L$\displaystyle \bar{p}_{1}^{}$ (4.1.7)

onde

$\displaystyle \mathcal {K}$ = $\displaystyle \begin{bmatrix}
1 & 0 & 0 & 0\\
0 & 1 & 0 & 0\\
0 & 0 & \frac{1}{k} & 0\\
0 & 0 & 0 & 1
\end{bmatrix}$

Sendo esta a nova posição da câmara em coordenadas do mundo (parâmetros extrínsecos). A orientação da câmara não necessita de ser alterada neste passo, embora normalmente seja, de forma tornar ambos os planos de retina das câmaras co-planares.

Os parâmetros intrínsecos da câmara, embora também não tenham que ser alterados, normalmente também o são, de forma a aproveitar melhor os elementos de imagem. Caso não se fizesse, apareceria uma zona à volta da imagem sem conteúdo, resultando em percas desnecessárias de informação. A alteração destes parâmetros é porém empírica havendo várias abordagens possíveis, por exemplo manter invariante a área da projecção da imagem no plano de retina ou garantir que dois cantos opostos ao longo de uma diagonal não alterem a sua posição. Dada a sua simplicidade e bons resultados obtidos (levando em conta a natureza da transformação extrínseca que se usa), foi usada esta última.


Ricardo 2004-11-06