Aerograma Deus queira que esta Vos mate a fome aos sentidos Por agora Deus queira que esta Vos guarde a dor aos gemidos Noite fora Dançamos fandangos Sobre uma navalha Pássaros em bando Em nuvens de limalha E assim eu cá vou indo. Vem-me o fel à boca As tripas ao coração A noite trás a forca pela sua mão Sonho com fantasmas De pele preta e luzidia Com manuais de coragem e cobardia Dizem que há sempre Um barco azul para partir Nosso hino Embarca a alma E os restos de um rosto a sorrir Do destino Põe o meu retrato No altar de S. João E uma vela com formato de canhão Cansa-se esta escrita Com dois dedos num baraço Assim o quis a desdita Vai um abraço. João Monge, in Sepes