LEMBRANÇA DA SEGUNDA GRANDE GUERRA Uma manhã chegou a guerra. Do Japão. Veio e aqui ficou talvez dois ou três anos. De japoneses havia uma divisão; julgo que só trezentos, dos australianos. Como eram poucos, eram bons. Os outros, não: mataram-me vizinhos, o meu pai, dois manos. O meu homem fugiu e ajudou no Subão dois loiros a afogar cem dos mais desumanos. Naquela noite, entrou-me em casa uma baioneta. Um soldado amarelo e súbito agarrou-me - eu estava sozinha - e deitou-me depressa. Deixei-o possuir-me, silenciosa e quieta; e, quando adormeceu, sem perguntar-me o nome, peguei numa catana e cortei-lhe a cabeça. Leonel Neves (In Memória de Timor-Leste, Pedra Formosa, Edições, Lda, 1997 ISBN 972-8118-15-5)