O povo manda no rio Aqui estou, doido de gaivotas, no sítio onde O povo manda no rio, aqui estou Com Annie nas margens do bucólico rio Almançor. Agora conheço, sabemos o peso do trigo, Somos, não, sou, perdão, Não quero ser perito em almas (em ervas), Seremos somente, não, serei mestre em cores E venenos. Annie, não deixes que o tempo envelheça Sobre os teus lábios Que encobrem o mistério mais audaz da minha vida. É o virar do Verão, O acrobático cair dos gladíolos. Todos os venenos estão contados, Menos aqui onde o povo manda no rio Almançor: Vieram as alfaias, os punhos de terra ocra E na terra em sangue, entre o basalto que Não há e os pássaros, entre as charruas vedras, O povo mudou o trajecto das águas, E as águas, Annie, já não são corruptas: Cheiram a corpo descalço e a mel, Cheiram a pão. Fernando Grade