Farto de voar Farto de voar Pouso as palavras no chão Entro no mar Sinto o sal de mão em mão Tenho um barco na vida espetado Só suspenso por fios dum lado E do outro a cair a cair no arpão no arpão Levo a dormir Sonhos que andei para trás Ergo o porvir Trago nos bolsos a paz Tenho um corpo na morte espetado Só suspenso por balas de um lado E do outro a escapar a escapar de raspão de raspão Ponho a girar Cantos que ninguém encerra De par em par Abro as janelas para a terra Tenho um quarto na fome espetado Só suspenso por água de um lado E de outro a cair a cair no alçapão no alçapão Farto de voar Pouso as palavras no chão Entro no mar Sinto o sal de mão em mão Tenho um barco na vida espetado Só suspenso por fios dum lado E do outro a cair a cair no arpão no arpão Sérgio Godinho, in "os sobreviventes"