Aos Amores! A vida que tudo arrasta os amores também uns dão à costa, exaustos, outros vao mais além navegadores só solitários dois a dois heróis sem nome e até por isso heróis Desde que o John partiu a Rosinha passa mal vive na Loneley Street, Heartbreak Hotel, Portugal ainda em si mora a doce mentira do amor tomou-lhe o gosto ao provar-lhe o sabor Os amores são facas de dois gumes têem de um lado a paixão, do outro os ciúmes são desencantos que vivem encantados como velas que ardem por dois lados Aos amores! No convento as noviças cantam as madrugadas e a bela monja escreve cartas arrebatadas "é por virtude tua que tu és o meu vício por ti eu lanço os ventos ao precipício" O Rui da Casa Pia sabe que sabe amar sopra na franja, maneira de se pentear vai à posta restante para ver quem lhe escreveu foi uma bela monja que nunca conheceu Aos amores! (desordeiros irresistíveis deleituosos entranhantes verdadeiros evitáveis buliçosos como dantes bicolores transgressores impostores cantadores) A Marta, quinze anos, vê na televisão um beijo igual ao que ontem deu junto do vulcão faz baby-sitting à espera de parecer mulher quando é que o amor lhe explica o que dela quer? Depois da dor, como conservar a inocência? leia um bom livro, legue as lágrimas à ciência e parta o vidro em caso de necessidade deixe o seu coração ir em liberdade Aos amores! Sérgio Goginho, in Aos Amores