Timor Andam lá sem descançar Nas montanhas a lutar Iluminam todo o mar De Timor Nas montanhas sem dormir Uma luz a resistir Arde sem se apagar Em Timor Andorinha de asa negra Se o teu voo lá passar Faz chegar um grande abraço Dá saudades a Timor Eles não podem escrever Porque vão a combater Vão de manhã defender A Timor As crianças a chorar Não as posso consolar Que eu nunca cheguei a ver A Timor Andorinha de asa negra Vem ouvir o meu cantar Ai que dor rasga o meu peito Sem notícias de Timor Nunca mais hei-de voltar Já não posso lá voltar À idade de lembrar A Timor Pedro Ayres de Magalhães ----------------------------------------------- Pedra no charco Caiu uma pedra no charco, caiu um penedo no rio, caiu mais um cabo da boa esperança no mar, p'rá gente se agarrar. Deixámos de ver as nuvens que nos tapavam o céu, pudemos sentir de perto a meiguice do tempo onde a gente se escondeu. É que hoje nasceu mais um dia. É que hoje nasceu mais alguém. É que hoje nasceu um poeta na serra com a estrela da manhã. Foi quando os lobos uivaram, foi quando o lince miou, as ovelhas não tinham fome e a alcateia repousou. E entre os uivos e os miados o poeta abriu o choro. E entre os vales e os cabeços, cavalgando uma alcateia o poema deslizou. Luís Represas ----------------------------------------------------------- Canção tão simples Quem poderá domar os cavalos do vento quem poderá domar este tropel do pensamento à flor da pele? Quem poderá calar a voz do sino triste que diz por dentro do que não se diz a fúria em riste do meu país? Quem poderá proibir estas letras de chuva que gota a gota escrevem nas vidraças pátria viúva a dor que passa? Quem poderá prender os dedos farpas que dentro da canção fazem das brisas as armas harpas que são precisas? Manuel Alegre