++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Olá a todos Estes são os primeiros poemas publicados por mim na pt-net antes de haver Versos de Segunda. Quis o acaso que o disco da Fáfá de Belém, Meu Fado, me viesse parar às mãos algures em 1993. Ao publicitar a existência de tal trabalho na pt-net transcrevi a letra do primeiro fado, "Canção grata". A reacção dos membros da pt-net foi de tal modo positiva que acabei transcrevendo todos os fados desse disco. Quando acabei de o fazer estava lançada a bisca para iniciar uma rubrica regular de poesia na pt-net Aqui ficam pomposamente para a posteridade os poemas que então publiquei. Abraços Carlos ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Canção grata Por tudo o que me deste inquietação cuidado um pouco de ternura é certo mas tão pouca Noites de insónia Pelas ruas como louca Obrigada, obrigada Por aquela tão doce e tão breve ilusão Embora nunca mais Depois de que a vi desfeita Eu volte a ser quem fui Sem ironia aceita A minha gratidão Que bem que me faz agora o mal que me fizeste Mais forte e mais serena E livre e descuidada Sem ironia amor obrigada Obrigada por tudo o que me deste Por aquela tão doce e tão breve ilusão Embora nunca mais Depois de que a vi desfeita Eu volte a ser quem fui Sem ironia aceita A minha gratidão Carlos Queiroz +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Canoa do Tejo Canoa de vela erguida Que vens do Cais da Ribeira, Gaivota que anda perdida Sem encontrar companheira, O Vento sopra nas Fragas, O Sol parece um morango E o Tejo baila com as vagas A ensaiar um fandango Estribilho: Canoa, conheces bem, Quando há Norte pela proa, Quantas docas tem Lisboa E as muralhas que ela tem! Canoa, por onde vais, Se algum barco te abalroa, Nunca mais voltas ao Cais! Nunca, nunca, nunca mais!! Canoa de vela panda Que vens da Boca da Barra E trazes na aragem branda Gemidos duma guitarra, Teu arrais prendeu a vela; E se adormeceu, deixá-lo! Agora muita cautela Não vá o Mar acordá-lo! Frederico de Brito +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Nem às paredes confesso Não queiras gostar de mim Sem que eu te peça, Nem me dês nada que ao fim Eu não mereça Vê se me deitas depois Culpas no rosto Eu sou sincera Porque não quero Dar-te um desgosto Estribilho: De quem eu gosto nem às paredes confesso E nem aposto Que não gosto de ninguém Podes rogar Podes chorar Podes sorrir também De quem eu gosto Nem às paredes confesso. Quem sabe se te esqueci Ou se te quero Quem sabe até se é por ti que eu tanto espero. Se gosto ou não afinal Isso é comigo, Mesmo que penses Que me convences Nada te digo. Estribilho: De quem eu gosto, etc. etc. Maximiano de Sousa +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Sombras da Madrugada Vi uma sombra bem unida a dela e a tua e a minha sombra já esquecida surpreendida parou na rua! os dois bem juntos, tu e ela nenhum reparou que a outra sombra era daquela que tu não queres mas já te amou! ƒÉ madrugada não importa neste silêncio há mais verdade a noite é triste e tão sózinha parece minha toda a cidade! nem um cigarro me conforta nem o luar hoje me abraça eu não te encontrarei jamais e nestas noites sempre iguais sou mais uma sombra que passa sombra que passa e nada mais. Ao longo desta madrugada a sombra da vida mora nas pedras da calçada já não tem nada anda perdida quando a manhã, desce enfeitada no sol, que a procura nem sabe quanto a madrugada chora baixinho tanta amargura! António Lampreia +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Procuro e não te encontro Procuro e não te encontro não paro, nem volto atrás Eu sei, dizem todos que é loucura Eu andar à tua procura Sabendo bem onde tu estás! Procuro e não te encontro Procuro nem sei o quê! Só sei, que por vezes ficamos frente a frente E ao ver-te ali finalmente Procuro, mas não te encontro! Preferes a outra e queres Que eu nunca, vá ter contigo Por isso, tenho um caminho marcado E vou procurar-te ao passado Para lembrar o amor antigo Procuro e não te encontro, Procuro, nem sei o quê Só sei, que por vezes ficamos frente a frente E ao ver-te ali finalmente Procuro, mas... não te encontro! Nóbrega e Sousa +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Confesso Confesso que te amei, confesso Não coro de o dizer, não coro Pareço outra mulher, pareço Mas lá chorar por ti, não choro Fugir do amor tem seu preço E a noite em claro atravesso Longe do meu travesseiro Começo a ver que não esqueço Mas lá perdão não te peço Sem que me peças primeiro De rastos a teus pés Perdida te adorei Até que me encontrei Perdida Agora já não és Na vida o meu senhor Mas foste o meu amor Na vida Não penses mais em mim, não penses Não estou nem p'ra te ouvir por carta Convences as mulheres, convences Estou farta de o saber, estou farta Não escrevas mais nem me incenses Quero que tu me diferences Dessas que a vida te deu A mim já não me pertences Mas lá venver-me não vences Porque vencida estou eu De rastos a teus pés Perdida te adorei Até que me encontrei Perdida Agora já não és Na vida o meu senhor Mas foste o meu amor Na vida. Frederico Valério +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Fado das queixas P'ra que te queixas de mim Se eu sou assim como tu és, Barco perdido no mar Que anda a bailar Com as marés? Tu já sabias Que eu tinha o queixume Do mesmo ciúme Que sempre embalei... Tu já sabias Que amava deveras; Também quem tu eras, Confesso, não sei! Estribilho: Não sei Quem és Nem quero saber, Errei Talvez, Mas que hei-de fazer? A tal paix~ao Que jamais findará, -- Pura ilusão! -- Ninguém sabe onde está! Dos dois, Diz lá O que mais sofreu! Diz lá Que o resto sei eu! P'ra que me queixo eu também Do teu desdem Que me queimou Se é eu queixar-me afinal Dum temporal Que já passou? Tu nem calculas As mágoas expressas E a quantas promessas Calámos a voz! Tu nem calculas As bocas que riam E quantas podiam Queixar-se de nós! Estribilho Frederico de Brito +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Olhos Castanhos Teus olhos castanhos de encantos tamanhos são pecados meus, são estrelas fulgentes, brilhantes, luzentes, caídas dos céus, Teus olhos risonhos são mundos, são sonhos, são a minha cruz, teus olhos castanhos de encantos tamanhos são raios de luz. Olhos azuis são ciúme e nada valem para mim, Olhos negros são queixume de uma tristeza sem fim, olhos verdes são traição são crueis como punhais, olhos bons com coração os teus, castanhos leais. Alves Coelho +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Só nós dois Só nós dois é que sabemos O quanto nos queremos bem Só nós dois é que sabemos Só nós dois e mais ninguém Só nós dois avaliamos Este amor, forte, profundo... Quando o amor acontece Não pede licença ao mundo Anda, abraça-me... beija-me Encosta o teu peito ao meu Esqueça o que vai na rua Vem ser meu, eu serei tua Que falem não nos interessa O mundo não nos importa O nosso mundo começa Ca; dentro da nossa porta. Só nós dois é que sabemos O calor dos nossos beijos Só nós dois é que sofremos As torturas dos desejos Vamos viver o presente Tal-qual a vida nos dá O que reserva o futuro Só Deus sabe o que será. Joaquim Pimentel +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Só à noitinha Tive-lhe amor Gemi de dor De dor violenta Chorei sofri E até por si Fui ciumenta Mas todo o mal Tem um final Passa depressa E hoje você Não sei porquê Já não me interessa Bendita a hora Que eu esqueci Por ser ingrato E deitei fora As cinzas do seu retrato Desde esse dia Sou feliz sinceramente Tenho alegria P'ra cantar e andar contente Só à noitinha Quando me chega a saudade Choro sózinha P'ra chorar mais à vontade Frederico Valério +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Memórias Você foi a maior das minhas amarguras E vive até hoje na minha loucura E foi a mais cruel de todas as vitórias E faz parte do livro das minhas memórias Lembrar de que nada de bom, Você me deu, só machuca alguém Que não viveu Vou recomeçar, Vou tentar viver Vou tirar você da minha vida E p'ra não chorar Antes de partir Vou tentar sorrir na despedida Agora que voltei à minha realidade Tentando me esquecer, De que tudo foi verdade Vou rebuscando, Fundo nas minhas memórias P'ra riscar você da minha história Leonardo +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ Tudo isto é fado Perguntaste-me outro dia Se eu sabia o que era o fado Eu disse que não sabia Tu ficaste admirado Sem saber o que dizia Eu menti naquela hora E disse que não sabia Mas vou-te dizer agora Almas vencidas Noites perdidas Sombras bizarras Na mouraria Canta um rufia Choram guitarras Amor ciúme Cinzas e lume Dor e pecado Tudo isto existe Tudo isto é triste Tudo isto é fado Se queres ser meu senhor E teres-me sempre a teu lado Não me fales só de amor Fala-me também do fado É canção que é meu castigo Só basceu p'ra me perder O fado é tudo o que eu digo Mais o que eu não sei dizer Anibal Nazaré +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++